quinta-feira, 17 de julho de 2008

ÉTICA À MESA
Ao escolhermos um alimento para a nossa mesa estamos a tomar uma decisão que afectará o funcionamento do nosso organismo e a nossa saúde a curto ou longo prazo. Mas estamos também a tomar uma decisão, de certa maneira, ética, política e económica. Ou seja, ao optar por comprar uma banana proveniente da Madeira ou do Equador estamos a escolher alimentos produzidos a distancias muito diferentes das nossas mesas, as quais implicarão custos ambientais distintos. Assim, os produtos provenientes da produção local e da época, permitem de um modo geral, reduções significativas na utilização de energia e, provavelmente, nas emissões de gases com efeito de estufa. Sabemos hoje que o transporte de alimentos por via rodoviária é um dos factores determinantes para a poluição atmosférica, resultante da emissão de partículas pelos camiões de grande tonelagem e também pelos gastos de combustível. Também a forma como nos fazemos transportar para comprar alimentos é outro factor importante para o consumo de energia e emissão de gases com efeito de estufa. Recentemente, foram publicados diversos trabalhos científicos onde se comparam diferentes formas de aceder às lojas de produtos alimentares. A utilização de automóvel particular é uma das mais poluentes e também aquela que muita gente usa para aceder aos supermercados cada vez mais longe das nossas casas. Em Inglaterra, o transporte de alimentos através do automóvel e entre a habitação e as lojas alimentares, representa já, 48% do total dos km realizados por um alimento até chegar aos nossos pratos. Uma opção poderá passar por escolher lojas alimentares que vendam frescos perto de nossa casa e onde possamos ir a pé regularmente, por exemplo, e deixar os produtos mais pesados para o transporte de automóvel. Que poderá ser utilizado mais esporadicamente.
Mas estas opções amigas do ambiente poderão ter custos económicos, implicarem na utilização do nosso tempo livre e até na nossa organização diária. Serão opções éticas com as quais somos confrontados se quisermos deixar um planeta habitável para os nossos filhos e netos.
Outra questão alimentar mas que se tem vindo a transformar numa questão de ordem ética é o desperdício calórico. Existindo tantas crianças e adultos mal nutridos nos países do sul como é possível continuarmos a consumir tantas calorias em excesso, e que ainda por cima são fonte de peso excessivo, perturbador da nossa saúde? Em Portugal, apesar de não existirem dados precisos sobre o aumento de energia consumida através dos alimentos, estima-se que possa ter aumentado de 2780 calorias nos finais dos anos 70 para 3750 calorias em 2001-2003. Nos Estados Unidos da América, esse aumento cifrou-se entre 1983 e 2000, em mais 600 calorias. Para fornecer essa energia são necessários utilizar mais 100,6 milhões de hectares por ano, com a correspondente utilização de substancias químicas, produção de energia, emissões de gases com efeito de estufa etc. Tudo isto para aumentar a ingestão diária de produtos alimentares, a maior parte deles fornecedores de calorias proveniente da gordura e açúcar com reduzido valor nutricional mas de grande valor energético contribuindo ainda mais para a pandemia de obesidade que grassa nas sociedades modernas. São assuntos, sobre os quais vale a pena meditar, nesta época de excesso calórico e globalização alimentar.

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