sábado, 19 de julho de 2008

O PARADOXO PORTUGUÊS ou o país dos obesos sem dinheiro para comprar comida.

Vivemos num país onde 50% da população tem mais peso do que devia e ao mesmo tempo é aquela que tem menos poder de compra em toda a Europa.
Nos últimos anos, assistimos em Portugal ao crescimento preocupante do excesso de peso e obesidade em todas as faixas etárias em paralelo com diversas medidas de austeridade que têm vindo a reduzir drasticamente o poder de compra dos cidadãos. Poderá perguntar-se como é que consumidores mais endividados e com menos dinheiro para gastar em alimentos, estão cada vez mais obesos?
Nenhuma resposta é simples. Mas atendendo a determinados sinais provenientes da economia alimentar, a resposta poderá estar na relação preço/calorias dos alimentos que ingerimos. De facto, os alimentos mais obesogénicos, ou seja, os mais calóricos e promotores de obesidade, actualmente à disposição do consumidor, tendem a ser os mais baratos. Custa a acreditar, mas a explosão tecnológica, as modificações na cadeia alimentar e a globalização dos sistemas de produção agrícola modificaram de tal forma a maneira de produzir e comercializar os alimentos que actualmente quantas mais calorias tiver um produto alimentar mais baixo poderá ser o seu preço (embora nem sempre isto aconteça). Esta revolução, que inverte completamente a anterior ordem natural da oferta que vigorou durante milhares de ano, está a chegar em força aos países mediterrânicos nos últimos anos, tornando a obesidade infantil principalmente preocupante.
Para além de uma oferta alimentar obesogénica e de baixo custo, existe um outro factor na sociedade portuguesa que está a contribuir para a epidemia da obesidade e que se prende com a inactividade física. Esta inactividade resulta de um planeamento urbano selvagem, de uma lei de arrendamento que aproxima as pessoas do carro e as afasta dos locais de trabalho, da falta de tempo dos encarregados de educação para apostarem nos tempos livres dos filhos e por fim, entre outros, de um sistema de ensino que não privilegia a prática desportiva. Isto para já não falar do sistema de saúde que até recentemente desprezou a promoção da actividade física e a alimentação saudável como factores determinantes da qualidade de vida.
Portugal ainda possui uma base alimentar protectora onde predominam práticas alimentares como o consumo de sopa, o consumo de pão de qualidade, de leguminosas secas, de azeite, peixe, hortícolas e frutos, que são claramente promotores da nossa saúde. Possui por outro lado, profissionais de qualidade (nutricionistas, médicos, professores...) capazes de integrarem as estruturas de ensino, de saúde ou dos municípios intervindo na prevenção destes problemas.
Possuímos tradições alimentares que protegem a nossa saúde. Possuímos produtos alimentares portugueses que protegem a nossa saúde. Possuímos técnicos que no terreno poderão fazer a diferença. Possuímos até uma plataforma de combate à obesidade. Só necessitamos de transformar estas potencialidades em acção na escola, em casa ou no trabalho. O que não é pouco.

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